Especialista em mudanças na educação presencial e a distância [*]
1. Tecnologias para organizar a informação
Do ponto de vista metodológico, o educador precisa aprender a
equilibrar processos de organização e de “provocação” na sala de aula. Uma das
dimensões fundamentais do ato de educar é ajudar a encontrar uma lógica
dentro do caos de informações que temos, organizá-las numa síntese
coerente, mesmo que momentânea, compreendê-las. Compreender é organizar,
sistematizar, comparar, avaliar, contextualizar. Uma segunda dimensão
pedagógica procura questionar essa compreensão, criar uma tensão para
superá-la, para modificá-la, para avançar para novas sínteses, outros
momentos e formas de compreensão. Para isso, o professor precisa questionar,
criar tensões produtivas e provocar o nível da compreensão existente.
No planejamento didático, predomina uma organização fechada e rígida
quando o professor trabalha com esquemas, aulas expositivas, apostilas,
avaliação tradicional. O professor que “dá tudo mastigado” para o aluno, de um
lado, facilita a compreensão; mas, por outro, transfere para o aluno, como um
pacote pronto, o conhecimento de mundo que ele tem.
Predomina a organização aberta e flexível no planejamento didático,
quando o professor trabalha a partir de experiências, projetos, novos olhares
de terceiros: artistas, escritores... etc. Em qualquer área de conhecimento,
podemos transitar entre uma organização inadequada da aprendizagem e a busca de
novos desafios, sínteses. Há atividades que facilitam a má organização, e
outras, a superação dos métodos conservadores. O relato de experiências
diferentes das do grupo ou, uma entrevista polêmica podem desencadear novas
questões, expectativas, desejos. E há também relatos de experiências ou
entrevistas que servem para confirmar nossas idéias, nossas sínteses, para
reforçar o que já conhecemos. Precisamos saber escolher aquilo que melhor
atende ao aluno e o traz para uma contemporaneidade.
Há
professores que privilegiam a organização questionadora, o questionamento, a
superação de modelos e não chegam às sínteses, nem mesmo parciais, provisórias.
Vivem no incessante fervilhar de provocações, questionamentos, novos olhares.
Nem o sistematizador nem o questionador podem prevalecer no conjunto. É importante equilibrar organização e inovação; sistematização e
superação.
2. Tecnologias para ajudar na pesquisa
A matéria prima da aprendizagem é a informação organizada,
significativa: a informação transformada em conhecimento. A escola pesquisa a
informação pronta, já consolidada e a informação em movimento, em
transformação, que vai surgindo da interação, de novos fatos, experiências,
práticas, contextos. Existem áreas com bastante estabilidade informativa: fatos
do passado, que só se modificam diante de alguma nova evidência. E existem
áreas, as mais ligadas ao cotidiano, que são altamente susceptíveis de mudança,
de novas interpretações.
As tecnologias nos ajudam a encontrar o que está consolidado e a organizar
o que está confuso, caótico, disperso. Por isso é tão importante dominar
ferramentas de busca da informação e saber interpretar o que se escolhe,
adaptá-lo ao contexto pessoal e regional e situar cada informação dentro do
universo de referências pessoais.
Muitos se satisfazem com os primeiros resultados de uma pesquisa.
Pensam que basta ler para compreender. A pesquisa é um primeiro passo para
entender, comparar, escolher, avaliar, contextualizar, aplicar de alguma forma.
Cada vez temos mais informação e não necessariamente mais conhecimento.
Quanto mais fácil é achar o que queremos, mais tendemos a acomodar-nos na
preguiça dos primeiros resultados, na leitura superficial de alguns tópicos, na
dispersão das muitas janelas que abrimos simultaneamente.
Hoje consumimos muita informação Não quer dizer que conheçamos mais e
que tenhamos mais sabedoria - que é o conhecimento vivenciado com ética,
praticado. Pela educação de qualidade avançamos mais rapidamente da informação
para o conhecimento e pela aprendizagem continuada e profunda chegamos à sabedoria.
O foco da aprendizagem é a
busca da informação significativa, da pesquisa, o desenvolvimento de projetos e
não predominantemente a transmissão de conteúdos específicos. As aulas
se estruturam em projetos e em conteúdos. A Internet está se tornando uma mídia fundamental para a pesquisa. O
acesso instantâneo a portais de busca, a disponibilização de artigos ordenados
por palavras-chave facilitaram em muito o acesso às informações necessárias. Nunca como até agora professores, alunos e todos os cidadãos possuíram a
riqueza, variedade e acessibilidade de milhões de páginas WEB de qualquer
lugar, a qualquer momento e, em geral, de forma gratuita.
O educador continua sendo importante, não como informador nem como papagaio
repetidor de informações prontas, mas como mediador e organizador de processos.
O professor é um pesquisador – junto com os alunos – e articulador de
aprendizagens ativas, um conselheiro de pessoas diferentes, um avaliador dos
resultados. O papel dele é mais nobre, menos repetitivo e mais criativo do que
na escola convencional.
Os professores podem ajudar os
alunos incentivando-os a saber perguntar, a enfocar questões importantes, a ter
critérios na escolha de sites, de
avaliação de páginas, a comparar textos com visões diferentes. Os professores
podem focar mais a pesquisa do que dar respostas prontas. Podem propor
temas interessantes e caminhar dos níveis mais simples de investigação para os
mais complexos; das páginas mais coloridas e estimulantes para as mais
abstratas; dos vídeos e narrativas impactantes para os contextos mais
abrangentes e assim ajudar a desenvolver um pensamento arborescente, com
rupturas sucessivas e uma reorganização semântica contínua.
Entre as iniciativas
de disponibilização de materiais educacionais para pesquisa destaca-se
o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) de Chicago, que
oferece todo o conteúdo dos seus cursos em várias línguas, facilitando o acesso
de centenas de milhares de alunos e professores a materiais avançados e
sistematizados, disponíveis on-line http://www.universiabrasil.net/mit/[1]
Alunos, professores, a escola e a comunidade
se beneficiam. Atualmente, a maior parte
das teses e dos artigos apresentados em congressos estão publicados na
Internet. O estar no virtual não é garantia de qualidade (esse é um problema
que dificulta a escolha), mas amplia imensamente as condições de aprender, de
acesso, de intercâmbio, de atualização. Tanta informação dá trabalho e nos
deixa ansiosos e confusos. Mas é muito melhor do que acontecia antes da
Internet, quando só uns poucos privilegiados podiam viajar para o exterior
e pesquisar nas grandes bibliotecas especializadas das melhores universidades. Hoje
podemos fazer praticamente o mesmo sem sair de casa.
A variedade de informações sobre qualquer assunto, num primeiro
momento, fascina, mas, ao mesmo tempo, traz inúmeros novos problemas: O que
pesquisar? O que vale a pena acessar? Como avaliar o que tem valor e o que deve
ser descartado?. Essa facilidade costuma favorecer a preguiça do aluno, a busca
do resultado pronto, fácil, imediato, chegando até à apropriação do texto do
outro. Além da facilidade de “copiar e colar”, o aluno costuma ler só algumas
frases mais importantes e algumas palavras selecionadas, dificilmente lê um
texto completo.
Jakob Nielsen e John Morkes constaram em uma pesquisa que
79 % dos usuários de Internet sempre lêem palavras ou trechos escolhidos,
através de títulos atrativos, enquanto somente 16 % se detêm na leitura do
texto completo
[2]
.Na França: 85% dos alunos de ensino fundamental (8ª série) se contentam
com os resultados trazidos pelo primeiro site de busca consultados e somente
lêem rapidamente os primeiros três resultados trazidos. Isto quer dizer que a
maior parte dos alunos procura o que é mais fácil, o imediato e o lê de forma
fragmentada, superficial. E quanto mais possibilidades de informação, mais
rapidamente tendemos a navegar, a ler pedaços de informação, a passear por
muitas telas de forma superficial.
Por isso, é
importante que alunos e professores levantem as principais questões
relacionadas com a pesquisa: Qual é o objetivo da pesquisa e o nível de
profundidade da pesquisa desejado? Quais são as “fontes confiáveis” para obter
as informações? Como apresentar as informações pesquisadas e indicar as fontes
de pesquisa nas referências bibliográficas? Como avaliar se a pesquisa foi
realmente feita ou apenas copiada?
Umas das formas de analisar a credibilidade do
conteúdo da sua pesquisa é verificar se ele está dentro de um portal
educacional, no site de uma universidade ou em qualquer outro espaço já
reconhecido. E verificar também a autoria do artigo ou da reportagem.
Pensando mais nos usuários jovens e adultos, Nilsen e Morkes propõem
algumas características que uma página
da WEB precisa apresentar para ser efetivamente lida e pesquisada:
- palavras-chave realçadas (links de hipertexto, tipo de fonte e cor funcionam como realce);
- palavras-chave realçadas (links de hipertexto, tipo de fonte e cor funcionam como realce);
- sub-títulos pertinentes (e não "engraçadinhos");
- listas indexadas;
- uma informação por parágrafo (os usuários
provavelmente pularão informações adicionais, caso não sejam atraídos pelas
palavras iniciais de um parágrafo);
- estilo de pirâmide invertida, que principia
pela conclusão;
- metade do número de palavras (ou menos) do
que um texto convencional. A credibilidade é importante para os usuários da
WEB, porque nem sempre se sabe quem está por trás das informações nem se a
página pode ser digna de confiança. Pode-se aumentar a credibilidade através de
gráficos de alta qualidade, de um texto correto e de links de hipertexto apropriados. É importante colocar links que conduzam a outros sites, que
comprovem que há pesquisa por trás e que dêem sustentação para que os leitores
possam checar as informações dadas.
Os usuários não valorizam as
afirmações exageradas e subjetivas (tais como "o mais vendido") tão
predominante na WEB hoje em dia. Os leitores preferem dados precisos. Além
disso, a credibilidade é afetada quando os usuários conseguem perceber o
exagero.
Além
do acesso aos grandes portais de busca e de referência na educação, uma das
formas mais interessantes de desenvolver pesquisa em grupo na Internet é o webquest
.
O
conceito de Webquest foi criado em 1995, por Bernie Dodge, professor da
universidade estadual da Califórnia, EUA, como proposta metodológica para usar
a Internet de forma criativa
[3]
.
Dodge a define assim a Webquest: "É uma atividade investigativa em que
alguma ou toda a informação com que os alunos interagem provém da
Internet." Em geral, uma Webquest é elaborada pelo professor, para ser
solucionada pelos alunos, reunidos em grupos.
[4]
A
Webquest sempre parte de um tema e propõe uma tarefa, que envolve consultar
fontes de informação especialmente selecionadas pelo professor. Essas fontes
(também chamadas de recursos) podem ser livros, vídeos, e mesmo pessoas a
entrevistar, mas normalmente são sites ou páginas na WEB. É comum que a tarefa
exija dos alunos a representação de papéis para promover o contraste de pontos
de vista ou a união de esforços em torno de um objetivo.
Bernie
Dodge divide a Webquest em dois tipos, ligados à duração do projeto e à
dimensão de aprendizagem envolvida:
Webquest
curta - leva de uma
a três aulas para ser explorada pelos alunos e tem como objetivo a aquisição e
integração de conhecimentos.
Webquest
longa - leva de uma
semana a um mês para ser explorada pelos alunos, em sala de aula, e tem como
objetivo a extensão e o refinamento de conhecimentos.
Resolver uma Webquest é um
processo de aprendizagem interessante, porque envolve pesquisa e leitura;
interação e colaboração e criação de um novo produto a partir do material e
idéias obtidas.
A webquest propicia a
socialização da informação: por estar disponível na Internet, pode ser
utilizada, compartilhada e até reelaborada por alunos e professores de
diferentes partes do mundo. O problema da pesquisa não está na Internet, mas na
maior importância que a escola dá ao conteúdo programático do que à pesquisa
como eixo fundamental da aprendizagem.
3. Tecnologias para comunicação e publicação
Os alunos gostam de se comunicar pela Internet. As
páginas de grupos na Internet permitem o envio de correio eletrônico e seu
registro numa página WEB. Tem ferramentas de discussão on line (chat) e
off-line (fórum). O chat ou outras formas de comunicação on-line são ferramentas muito
apreciadas pelos alunos e bastante desvalorizadas pelos professores. Alega-se a
dispersão (em geral, real) e o não aprofundamento das questões. Mas há a
predisposição dos alunos para a conversa on-line. Faz parte dos seus hábitos na
Internet. Com as novas soluções, como o videochat, o chat com voz e algumas formas de gerenciamento podem ser muito úteis em cursos semi-presenciais e a distância.
A escola, com as redes
eletrônicas, abre-se para o mundo; o aluno e o professor se expõem, divulgam
seus projetos e pesquisas, são avaliados por terceiros, positiva e
negativamente. A escola contribui para divulgar as melhores práticas, ajudando
outras escolas a encontrar seus caminhos. A divulgação hoje faz com que o
conhecimento compartilhado acelere as mudanças necessárias e agilize as trocas
entre alunos, professores, instituições. A escola sai do seu casulo, do seu
mundinho e se torna uma instituição onde a comunidade pode aprender contínua e
flexivelmente.
Quando focamos mais a
aprendizagem dos alunos do que o ensino, a publicação da produção deles se
torna fundamental. Recursos como o portfólio, em que os alunos organizam o que
produzem e o colocam à disposição para consultas, é cada vez mais utilizado. Os blogs, fotologs e videologs são recursos muito interativos de
publicação, com possibilidade de fácil atualização e de participação de
terceiros. São páginas na Internet, fáceis de se desenvolver, e
que permitem a participação de outras pessoas. Começaram no “modo texto”,
depois evoluíram para a apresentação de fotos, desenhos e outras imagens e,
atualmente, estão na fase do vídeo. Professores
e alunos podem gravar vídeos curtos, com câmeras digitais, e disponibilizá-los
como ilustração de um evento ou pesquisa.
Os blogs, flogs (fotologs ou videologs) são
utilizados mais pelos alunos do que pelos professores, principalmente como
espaço de divulgação pessoal, de mostrar a identidade, onde se misturam
narcisismo e exibicionismo, em diversos graus.
Atualmente, há um uso crescente dos blogs por
professores dos vários níveis de ensino, incluindo o universitário. Eles
permitem a atualização constante da informação, pelo professor e pelos alunos,
favorecem a construção de projetos e pesquisas individuais e em grupo, e a
divulgação de trabalhos. Com a crescente utilização de imagens, sons e vídeos,
os flogs têm tudo para explodir na educação e se integrarem com outras
ferramentas tecnológicas de gestão pedagógica. As grandes plataformas de
educação à distância ainda não descobriram e incorporaram o potencial dos blogs
e flogs.
A possibilidade de os
alunos se expressarem, tornarem suas idéias e pesquisas visíveis, confere uma
dimensão mais significativa aos trabalhos e pesquisas acadêmicos. “São
aplicativos fáceis de usar que promovem o exercício da expressão criadora, do
diálogo entre textos, da colaboração”, explica Suzana Gutierrez, da UFRGS.
“Blogs possuem historicidade, preservam a construção e não apenas o produto
(arquivos); são publicações dinâmicas que favorecem a formação de redes”.
[5]
"Os weblogs abrem espaço
para a consolidação de novos papéis para alunos e professores no processo de
ensino-aprendizagem, com uma atuação menos diretiva destes e mais participante
de todos." A professora Gutiérrez lembra que os blogs registram a concepção do projeto e os detalhes de todas as
suas fases, o que incentiva e facilita os trabalhos interdisciplinares e
transdisciplinares. "Pode-se assim, dar alternativas interativas e suporte
a projetos que envolvam a escola e até famílias e comunidade."
[6]
Os blogs também são importantes para
aprender a pesquisar juntos e a publicar os resultados.
Há diferentes tipos de blogs educacionais: produção de textos, narrativas, poemas, análise de obras
literárias, opinião sobre atualidades, relatórios de visitas e excursões de
estudos, publicação de fotos, desenhos e vídeos produzidos por alunos. A
organização dos textos pode ser feita através de algumas ferramentas
colaborativas como o Wiki, que é um
software que permite a edição coletiva dos documentos usando um sistema simples
de escrita e sem que o conteúdo tenha que ser revisado antes da sua
publicação. A maioria dos wikis são abertos a todo o público ou pelo menos a
todas as pessoas que têm acesso ao servidor wiki.
[7]
A Internet tem hoje
inúmeros recursos que combinam publicação e interação, por meio de listas,
fóruns, chats, blogs. Existem portais de publicação mediados,
em que há algum tipo de controle, e outros abertos, baseados na colaboração de
voluntários. O site www.wikipedia.org/ apresenta um dos
esforços mais notáveis, no mundo inteiro, de divulgação do conhecimento.
Milhares de pessoas contribuem para a elaboração de enciclopédias sobre todos
os temas, em várias línguas. Qualquer indivíduo pode publicar
e editar o que as outras pessoas escreveram. Só em português foram divulgados
mais de 30 mil artigos na wikipedia. Com todos os problemas envolvidos, a
idéia de que o conhecimento pode ser co-produzido e divulgado é revolucionária
e nunca antes havia sido tentada da mesma forma e em grande escala. Aqui,
contudo, professores e alunos precisam validar a fonte, pois algumas vezes há
informações incorretas.
Outro recurso popular na educação é a criação
de arquivos digitais sonoros, programas de rádio na Internet ou PodCasts. São arquivos digitais, que se assemelham a
programas de rádio e podem ser baixados da internet usando a tecnologia RSS[9], que "avisa" quando há um
novo episódio colocado na rede e permite que ele seja baixado para o
computador. Há podcasts em todas as áreas[8]
[9]
São muitas as possibilidades de utilização dos blogs na escola. Primeiro, pela facilidade de publicação, que não
exige nenhum tipo de conhecimento tecnológico dos usuários, e segundo, pelo
grande atrativo que estas páginas exercem sobre os jovens. "É preciso
apenas que os professores se apropriem dessa linguagem e explorem com seus
alunos as várias possibilidades deste novo ambiente de aprendizagem. O
professor não pode ficar fora desse contexto, deste mundo virtual que seus
alunos dominam. Mas cabe a ele direcionar suas aulas, aproveitando o que a
internet pode oferecer de melhor", afirma a educadora Gládis Leal dos
Santos.
[10]
Palloff e Pratt
[11]
afirmam que as chaves para a obtenção de uma aprendizagem em comunidade, bem
como uma facilitação on-line bem sucedida, são simples, tais como: honestidade,
correspondência, pertinência, respeito, franqueza e autonomia, elementos sem os
quais não há possibilidade de se atingir os objetivos de ensino propostos.
vvv
Nenhum comentário:
Postar um comentário